quinta-feira, 14 de julho de 2011

Como fazer um gigante - Parte 1

É só falar em dinossauro que (talvez depois do famigerado T-Rex) a primeira imagem que vem à mente é a dos gigantescos saurópodes, os dinossauros "pescoçudos". Os saurópodes foram os maiores animais terrestres de todos os tempos, alguns deles atingindo mais de 40 metros de comprimento, e passando das 100 toneladas de massa. Só pra dar uma idéia de escala, observe a foto abaixo, tirada no Museo Paleontologico Egidio Feruglio, na Argentina. Pequenino (vou compreender se você demorar pra encontrar), está este que vos escreve, contrastando com o gigantesco Argentinosaurus (note bem: sem o pescoço!).

Esses verdadeiros titãs do Mesozóico não eram grandes à toa: ao mover o longo pescoço, o animal cobria uma área enorme ao se alimentar, sem precisar dar um único passo. Com isso, erguendo a cabeça, esses dinossauros herbívoros conseguiam alcançar as folhas mais altas e tenras das árvores da época, ou pastar sobre áreas imensas de vegetação rasteira, apenas movendo o pescoço para os lados. Só que a digestão das folhas exige um grande espaço físico (não é a toa que grandes herbívoros possuem uma barriga grande - pense num rinoceronte, num elefante, ou mesmo numa vaca, que você vai me dar razão nesse ponto). Quebrar as cadeias de celulose das plantas e transforma-las em glicose, aproveitável pelo organismo, exige tempo, e espaço. É como um tanque de fermentação: quanto mais folhas o animal estoca, e quanto mais tempo ele passa digerindo, mais energia ele obtém. Agora, imagine a quantidade de vegetação que precisava pra alimentar um corpanzil de 100 toneladas?

Só que uma coisa acarreta em outra: assim como a herbivoria exigia um grande aparelho digestivo, e adaptações para ingerir grandes quantidades de comida sem gastar muita energia se deslocando, sustentar um corpo daquele tamanho praticamente desafiava as leis da física: era literalmente um problema de peso! Um problema, cuja solução evolutiva os paleontólogos descobriram pouco a pouco, juntando evidências a partir dos fósseis.

Os saurópodes acumularam uma série de adaptações estruturais para lidar com isso: pernas maciças, mantidas eretas abaixo do corpo, agiam como os pilares de sustentação de um prédio. O longo pescoço tinha vértebras ocas, preenchidas por sacos aéreos, para diminuir o peso, e facilitar a mobilidade. A cabeça pequena cumpria o mesmo propósito. Por fim, a cauda massiva servia de contrapeso para o pescoço. As patas, e em especial os dedos, sofreram uma redução no número de ossos, trocando mobilidade por robustez (assim o animal não corria o risco de quebrar os dedos ao apoiar o peso sobre eles). Por fim, as costelas tinham que ser reforçadas, para suportar o enorme volume dos órgãos internos sem ceder para os lados.

Pra ilustrar essa mistura de características adaptativas, a reconstrução abaixo retrata um saurópodo hermano, o Patagosaurus fariasi do Jurássico da Patagônia Argentina. Mas este era um saurópodo modesto. Tinha apenas 18 metros. Chinfrim. Coisa pequena.

(créditos da imagem: Voltaire Neto - voltairearts.deviantart.com)

Pois bem: por décadas, os cientistas quebraram a cabeça para entender como animais desse tamanho poderiam funcionar. Ainda hoje, perguntas assolam a cabeça dos paleontólogos: como o coração desses bichos bombeava o sangue pescoço acima? Que tamanho tinha que ter um pulmão capaz de ventilar um corpo desse tamanho? Como um filhote de algumas dezenas de quilos se tornava um adulto de dezenas de toneladas?

Mas a mais intrigante de todas, sem dúvida: como um bicho desses evoluiu? Como "fazer" um gigante?

Recentemente, e aos poucos, essa pergunta vem sendo respondida com novos achados. Mas vou fazer um pouco de suspense e guardar o segredo pras próximas postagens!

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